A possibilidade de criação de um texto que desobedeça a forma linear e sequencial com a qual nos acostumamos a escrever (e, portanto, ler) põe em discussão a concepção da compreensão textual como um encadeamento de ideias que partindo de um ponto inicial se encaminha a um ponto final e que, durante o percurso, tece relações que consolidam este entendimento. A não-linearidade característica do hipertexto traz à tona muitas questões que precisam ser respondidas pois a nova modalidade textual deixa entrever inúmeras aplicações na área educacional.
No texto utilizado como base para estas reflexões, encontramos o autor propondo aproveitar o surgimento do hipertexto para se reavaliar o papel da escola no letramento e também a função do computador no ensino. A ideia levantada por ele é que o hipertexto, viabilizado pelas novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) interage e interfere nas práticas da escrita. A partir daí, tece questionamentos (MARCUSCHI, 2001, p.82):
- Será o hipertexto um novo espaço da escrita?
- Quais são os desafios dessa nova forma de escrever?
- Em que medida o hipertexto afeta os papéis de autor e leitor?
- A aprendizagem mediante o hipertexto oferece mais desafios e exige mais preparo do que as práticas textuais tradicionais?
- Será o hipertexto uma prática de construção de conhecimento mais eficiente que a produção escrita na forma tradicional?
- Qual o futuro do texto tradicional em relação ao hipertexto?
Para responder será necessário o desenvolvimento de pesquisas que investiguem as relações entre a nova forma de registro escrito e as funções cognitivas utilizadas para acompanhar e compreender as mensagens (que se apresentam como inúmeras) registradas. Certo é que o seqüenciamento e a linearidade foram superados e o cérebro humano irá adaptar-se ao novo padrão de transmissão de informações. Também certo é a volatilidade do texto construído pelo leitor, que segue caminhos próprios e que não deixa pegadas para o próximo nem para si mesmo. Neste caso, percebe-se que haverá novamente a necessidade do recurso da memória, se não para fixar os conteúdos lidos mas para refazer os passos caso seja preciso. O hipertexto exige maior esforço do leitor e também obriga a um compromisso com a leitura, uma vez que várias são as opções de leitura e compreensão abertas pelos hiperlinks inseridos no texto. Este envolvimento individual (que também pode ser transformado em coletivo) é positivo do ponto de vista pedagógico, podendo trazer o aluno de volta para atividades de leitura e escrita, interferindo como referido pelo autor no início de seu texto.
[1] Texto base: MARCUSCHI, Luis Antônio. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino, Recife, vol. 4, n. 1, p. 79-111, 2001.